**O MAIS BEM GUARDADO SEGREDO - **conto histórico por: Carlos A.D. Carriço terça-feira, 25 de maio de 2021
**1. A penha de Sortelha**
Dona Mencia, depois de muitas andanças retornou à terra onde seu bisavô **El Rei Dom Afonso Henriques**, houve por bem reinar. Foi trazida de longes terras para a corte de Coimbra. As disputas palacianas pelo poder, levaram-na após dias de longa cavalgada por caminhos, veredas, por montes e vales entre as serras do Açor, da Lousã e da Estrela até aos vales de campos dourados de ricas fauna e flora - papoilas, coelhos, malmequeres, javalis, crisântemos, linces, lírios, sacarrabos, espargos selvagens e aqui e ali até ursos - após uma última pernoita entre muralhas no Castelo da Covilhã, mandado erigir por **D. Sancho I**, acaba por se quedar já para além do **Belo Monte**: Estas eram terras, para si, ainda mais longínquas e desconhecidas. Era já dali visível a altaneira e enigmática "Pena de Sortelha"...
**2.Dom Clemídes**
Dona Edvíges, era íntima de Dom Clemides. Dona Mencia já ouvira falar das suas cavalgadas sem fim, por terras de limite desconhecidas e de beleza sem par. Dona Mencia, dera indicação a Dona Edvíges para lhe trazer à sua presença tão viajado e valoroso cavalgante. Acampados que eram, naquela várzea entre penedos, maciços graníticos e serranias, junto à Ribeira de Caria dali já se conseguia ver por entre Penedos e gestais da encosta, a Pena de Sortelha - qual soldado verdadeiramente firme e hirto em sentinela constante desafiando quem ousasse aproximar-se. Parando a sua montada de forma brusca Dom Clemídes, de um fôlego só, entrou na tenda onde Dona Mencia, na sua pose de nobre cortesã o esperava. - Dom Clemides, bem vindo sejais. Dizei-me, vós que conheceis bem estas paragens onde aconselhais um passeio aventurado pela manhã - Dona Mencia não se escusava a uma boa escapadela por difícil e perigosa que fosse. - Senhora Dona Mencia, Vossa Alteza Real, subir ao topo daquela pena é quase como subir ao Céu e estar no topo do Mundo! - Pois então. Seja- anuiu Dona Mencia.
**3. A caminho da Cabeça da Velha**
A história à subida da Pena de Sortelha - por sugestão de Dona Mencia esposa de **Dom Sancho II **, é uma narrativa única que nos transporta aos tempos medievais em Portugal, quando as cavalgadas e jornadas através das terras montanhosas eram comuns. Vamos mergulhar nessa história:
O numeroso séquito, com Dona Edviges a supervisionar, afadigava-se em tudo arranjar para um verdadeiro manjar. Poder gozar das fragrâncias que pairavam por toda aquela região do ar límpido e fresco, seria uma bênção. A caminhada, dali parecia um "instantinho", mas Don Clemiades avisara que a subida era longa e até penosa em alguns sítios. A manhã parecia querer estragar a jornada - com uma orvalhada e neblina pouco comuns para a estação - porém, enquanto tudo ficava ao jeito de Dona Edviges o sol começou a brilhar e o céu a ficar mais límpido que nunca.
Decorria o ano da era de NSJ Cristo de 1218, e Portugal estava sob o reinado de Dom Sancho II, um dos primeiros monarcas do país após a independência de Leão e Castela. A corte real era frequentemente acompanhada por uma comitiva de nobres e damas de companhia nas suas jornadas pelo reino. Entre essas damas de companhia, destacava-se pela amizade entre Dona Mencia, a rainha de Portugal, e sua fiel amiga, Dona Edviges.
Na fadiga da jornada, Dom Clemides, um nobre de confiança e leal vassalo do rei, sugeriu que a comitiva fizesse uma pausa e um merecido descanso para usufruir das inigualáveis vistas panorâmicas enquanto se saboreava um bom repasto. Dona Edviges, que era conhecida pela sua habilidade culinária e pela capacidade de transformar comida simples em banquetes memoráveis, com os ingredientes que tinha à mão, assumiu a responsabilidade de preparar tal pantagruélico repasto para todos.
A comitiva real fez uma jornada em direção à imponente **Penha de Sortelha,** situada na corda da Serra da Estrela no coração da Beira Interior, de onde já se vislumbram terras de Castela Leão. O objetivo, era no entrementes subir aquele monte roqueiro e realizar uma visita de cortesia aos senhores locais, fortalecer os laços com as regiões distantes do reino. Porém, o caminho até aquelas bandas, quase desertas, foi árduo e acidentado, passando por trilhos estreitos e pedregosos.
Enquanto a comitiva se acomodava num cenário pitoresco sob o olhar enigmático, da enorme rocha da Cabeça da Velha na acidentada encosta da montanha, a poente, Dona Edviges começou a organizar uma refeição.
Enquanto uns se recostavam em algum pedregulho ou num qualquer tronco de giesta, Dona Edviges, que era conhecida pela sua habilidade culinária e pela capacidade de transformar comida simples em banquetes memoráveis, com os ingredientes que tinha à mão - preparou uma seleção de pães frescos, queijos saborosos, enchidos finamente cortados e frutas da estação. Para acompanhar, também havia vinho tinto da região, que aqueceu os corações e as almas dos presentes. Pequenos bolinhos de massa, pão recheado com carne temperada, pastéis, tortas de frutas recheadas com frutas frescas, tortas de queijo, massa recheada com ovos cozidos faziam a delícia de todos. Dos peixes: o salmão, a truta e a enguia, frescos acabados de pescar pelos especialistas nos rios das redondezas, eram também apreciados. O leite, queijo e a manteiga também se mostravam como os melhores e mais frescos produtos da região. O mel era um adoçante natural que adoçaria no final a boca dos mais gulosos - Dona Edviges, assumiu a orientação de tão laboriosa tarefa e a responsabilidade de preparar tão pantagruélico repasto para todos.
......Chegados ao topo, a rainha logo ali soube que construir um castelo naquele ponto elevado da Peña de Sortelha seria uma decisão sábia para defender aquelas terras tão importantes para o reino de Portugal. A posição estratégica tornaria o castelo praticamente impenetrável, proporcionando segurança e controle sobre a região circundante.
Dona Mencia viria a participar de sua visão. Mais tarde, Dom Sancho II convenceria toda a corte da bondade da proposta de Dona Mencia . Viriam a concordar com a ideia que era promissora e decidiram assim planear o Castelo fortaleza. Dariam início aos planos para a construção do Castelo de Sortelha logo que possível.
A construção do Castelo de Sortelha começou com grande entusiasmo e dedicação. Os mestres pedreiros, escultores e arquitetos trabalharam em conjunto para esculpir a cornucópia nas rochas com habilidade e precisão. A tarefa foi desafiadora, pois as instruções que tinham era de esculpirem o símbolo da fertilidade com detalhes intrincados e o posicionamento de forma a destacarem-se majestosamente naquele local único.
Os mestre começaram por esculpir na rocha, com os picos e à força de braços, um desenho em forma de uma cornucópia no topo agreste da peña quase inacessível e o castelo depressa começou a tomar forma
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Dona Edviges era uma dama de linhagem nobre, conhecida pela sua beleza e graciosidade, mas também pela sua coragem e determinação. Tinha uma amizade profunda com Dona Mencia, a esposa de Dom Sancho II, o Rei de Portugal naquela época. As duas compartilharam segredos, risadas e confidências, tornando a sua amizade ainda mais forte. Dona Edviges não escondia a paixão que sentia por Dom Clemides embora as suas faces enrubescessem, ainda mais, quando falava do assunto.
Dom Clemídes, por seu lado, era um nobre cavaleiro que servia fielmente à corte de Dom Sancho II. Era conhecido pela sua habilidade na equitação e sua devoção ao rei e não escondia a atração que tinha por Dona Edviges.
Dona Mencia, Dona Edviges e Dom Clemídes naquela cavalgada sem par eram o cimento para todo o séquito. Formavam um trio inseparável e imbatível. Juntos, empreenderam uma jornada memorável nunca vista para aquelas bandas.